24 de abril de 2010

Relembrando um pouco sobre o nada




Escolhido pela crítica como a melhor série de TV de todos os tempos, um fenômeno cultural e comercial e com uma trama bem simples – conhecida como uma série sobre o ‘nada’ – Seinfeld completaria 20 anos neste mês de maio. Completaria, pois teve seu fim em 1998 após nove ótimas temporadas e 180 episódios.
 
Parte do genial episódio 'The Roomate Switch'

A relação entre quatro amigos, Jerry, George, Elaine e Kramer, suas paranóias, neuroses e demências são o que movem os episódios. O ‘sobre o nada’ citado acima tem a ver com os temas e situações corriqueiras tão presentes em nossas vidas, como esperar uma mesa livre num restaurante, uma viagem de metrô, ou procurar um novo apartamento, todos estes são ponto de partida para as situações das mais bizarras. E tudo isso só é interessante e funcionou tão bem na telinha graças à perfeita química entre os protagonistas, e ao texto genial, fruto de Jerry Seinfeld e Larry David, os cabeças por trás de Seinfeld. Ambos tiveram a ideia para o seriado, e muitas das estórias retratadas são baseadas em suas experiências. Até mesmo o inconfundível Kramer é baseado num vizinho que David teve.

Nem só do elenco principal dependia o seriado: os chamados coadjuvantes também se encaixavam perfeitamente no cenário demente de Seinfeld. A começar pelos pais de George Constanza (Frank e Estelle), e Jerry Seinfeld (Morty e Helen); impagáveis! Sem falar nas participações especiais de David Puddy (namorado de Elaine), Uncle Leo (tio de Seinfeld), Jack Chiles (advogado de Kramer), George Steinbrenner (chefão do New York Yankees), o Soup Nazi… Todos eles acabaram tendo suas frases de efeito e estilos próprios.



Os episódios eram sempre centrados em situações ou pessoas inusitadas. Jerry sai com uma garota mas ainda não sabe seu nome ,e como já havia ‘passado da terceira base’ – segundo ele mesmo – ficaria chato perguntar pra ela. A única coisa que sabe é que o nome dela rima com uma parte da anatomia feminina: Bovary? Mulva? Até que no fim do episódio ele acerta: Dolores.
Num outro clássico, o episódio ‘The Contest‘, a mãe de George flagra-o com uma revista de moda numa mão e seu, você sabe…. na outra mão. Fato que o leva a jurar que nunca mais iria se masturbar. Claro que os amigos não acreditam e, então, resolvem apostar com ele quem fica mais tempo sem ‘fazer aquilo’. A genialidade do episódio é que em nenhum momento eles dizem a palavra masturbação.

Certa vez, George está numa concessionária escolhendo um carro, quando o vendedor diz ter um Lebaron usado que pertencia a Jon Voight, então ele resolve comprá-lo para impressionar os outros. Jerry obviamente duvida que seja verdade, até achar no porta-luvas um lápis mordido, e o manual do carro assinado por John Voight, com a letra H. Mais tarde, Kramer tenta pedir um autográfo para o ator Jon Voight, que acaba mordendo o braço do primeiro. O absurdo acontece quando eles mostram o lápis mordido e o braço também mordido para checar se foram feitos pela mesma pessoa.
Outro que não poderia deixar de mencionar: Jerry está saindo com uma mulher. Ela diz que não quer mais vê-lo pois não gostou da apresentação dele (assim como na vida real, Jerry faz stand-up comedy). Ele diz: ‘E daí que não gostou? Era só um show.’ Ela retruca: ‘não posso sair com alguém se não respeito o trabalho desta pessoa’. ‘Mas você trabalha como caixa numa loja!?’

Não, o humor de Seinfeld não é pra qualquer um. Ácido, sarcástico ao extremo e muitas vezes dito ‘amoral’ resultou num início lento em termos de audiência na TV americana, apesar de bem elogiado entre os críticos da época. Episódios como o ‘The Chinese Restaurant‘ (O Restaurante Chinês), que mostrava, em tempo real, os vinte minutos de espera por uma mesa num restaurante, era visto como arriscado pelos executivos da emissora NBC. Besteira, uma vez que a audiência de Seinfeld começaria a subir justamente após sua terceira temporada. E em seu último episódio, resultou na terceira maior audiência da história da TV americana.


E por falar no episódio final, ele é motivo de polêmica até hoje. Os quatro estão numa cidadezinha, testemunham um cara assaltando um homem gordo, e ficam parados fazendo comentários maldosos em vez de ajudar a vítima. O problema é que uma tal Lei do Bom Samaritano diz que todos que presenciam alguma maldade devem tentar ajudar de alguma forma. O quarteto então vai a julgamento, o que serve de mote para vários perrsonagens de outras temporadas reaparecerem para se vingar, dando depoimentos sobre a índole de Jerry, George, Elaine e Kramer. Para os fãs mais árduos, final mais horrível não poderia ter havido. Nove anos de estórias politicamente incorretas e humor negro resultariam com os quatro presos numa delegacia? Mas, parando pra pensar melhor, qualquer final teria sido frustrante. A expectativa era muito grande. Foi assim com Seinfeld, com Arquivo X, e será assim com todas as grandes séries de TV.

Obs: texto originalmente publicado no ótimo blog Ao Sugo.

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